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quarta-feira, 17 de setembro de 2014

De um tempo pra cá


                        De um tempo pra cá
                 

De um tempo pra cá eu venho limpando mais os olhos, abrindo mais as cortinas e esperando menos das pessoas que tanto eu deveria esperar algumas coisa.
 De um tempo pra cá eu fiz que nem a Cinderela, esqueci coisas no caminho e não tive tempo de buscar. Tenho ouvido muito a Ana Canãs, talvez pelo fato do meu celular ter paralisado várias vezes em sua música, mas até que eu gostei. 
De um tempo pra cá eu não amei ninguém, não sei até que ponto isso acaba sendo bom, mas amor passou a ser só uma frase fofa - mentira, eu beijei o moço dali da esquina e fiquei toda estremecida.
 Em alguns quesitos fiquei a esmo, mesmos livros que teimo em ler e não leio, a minha conta de livros sobre tragédias românticas ainda irei expor em praça pública em uma daquelas feiras livres que todo mundo compra por cinco reais e lê pelo menos três vezes, três longas vezes e em todas as três chora enquanto come chocolate amargo. 
De um tempo pra cá não mudei muito, acho que isso deu pra perceber logo de cara. 

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Mergulho, Insano & Direção



Parece uma daquelas noites que tenho medo de sair de casa, sempre que me comparo a alguém estou sempre abaixo ou nem apareço na lista. Fico perplexo quando vejo meu reflexo no espelho, mas logo me contenho. Eu tive que explicar para mim mesmo o motivo de  não gostar da angústia delirante, já basta o pós-amor não cicatrizado. Já tive certas fases, hoje não demonstro nem ser A nem B, antes um egocentrismo maldito do que só mais um buscando atenção. Sou exatamente o que você pode enxergar: Alto, acima do peso, escreve textos e na maioria das vezes não sabe que genêro escreve e gosta de.... Ah, puxa! Devo me calar logo agora? E a minha bandeira?

Acredito que o amanhã talvez seja um tanto tarde para o que acredito, odiaria olhar o meu reflexo e sentir repulsa, seria um caminho imperdoável. Lembro que peguei a primeira roupa que vi no armário, vesti e odiei o modo que ela ficava no meu corpo, já era um pouco tarde, vesti a segunda e fui. Lembro ter ouvido gritarei meu nome, mas não dei tanta importância, entrei na casa da minha amiga. Um fato sobre mim: Eu odeio aniversários, porém era uma grande amiga, sacrifícios à parte.

Procurei uma poltrona em um lugar onde eu pudesse ter paz, fiquei lá por horas, até que vinheram me importunar.
- Você está bem?
- Estaria se não vinhessem me incomodar- Respondi
- Nossa...
- Desculpa.
- Entendo, se foi por minha presença eu vou embora.
- Não precisa.

Tive vontade de responder que SIM, me incomodava. Naquele instante tive vontade de pôr os pingos nos is, mas preferi calar a frase que saíria em seguida. Entreguei o presente, fingi passar mal e fui embora. No caminho de volta fiquei divagando em um vai-e-vem de pensamentos, pisei em falso e por pouco não quebrei o salto do meu sapato.

Ouvi gritarem
- Ei, o termino da estrada é aqui!

Falei repetidas vezes para mim mesmo

- Pai-Filho-Espírito Santo-Santíssima Trindade

Senti-me uma Maria Madalena no meio de um cabaré Boêmio naquele momento.
Era só uma fantasia em minha cabeça.

O Martini que tomei começara a fazer efeito, quando voltei pra casa já tinha passado da meia noite. Entrei silenciosamente  dentro de casa, mas fui traído pela cadela de estimação. Pra variar bebi uma taça de vinho tinto, ninguém percebeu no dia seguinte. Liguei a TV, mas não tinha nada que eu queria assistir, além de um pornô barato de 1999.

Já dizia Dona Leida:
" Precisa se assumir, pôr as coisas no lugar, se cuidar, se mecher, se atrever mais, Nossa Senhora!"

 Atualmente, prefiro acreditar que tudo é mais ou menos um sonho louco, o texto que escrevo é sem rumo. Olhei a Lua e em minutos seguintes ela tinha sumido, acredito que levou consigo os meus demônios - Pelo menos espero, caso contrário seria como penitência lembrar dele quando eu for dormir. Amanheceu, acordei com dor de cabeça, o pastor do apartamento acima do meu disse que a dor de dentro supera a da aparência e que bem aventurado é aquele que não leva consigo o título de melhor em tudo. Talvez, escreva isso em minha lápide. Hoje em dia nem mesmo meu cachorro me entende, bem diria meus amigos. As vezes eu iria longe, bem longe, mas antes eu buscava enlouquecidamente algum tipo de direção, algum lugar para ir, mas já faz um tempo que encontrei esse lugar, ironicamente é dentro de mim. Hoje o dia foi quieto, precisava de sossego, minha avó fez Torta e pediu pra vizinha do lado trazer pra mim, estava ótima. Escrevi uns três poemas, tive sono. Vesti meu pijama de bolinha e fui dormi, mas ninguém quer saber disso.

                                                                  Luciano Gomes

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Espírito Meu



Agora que o inverno passou eu vejo tudo tão prata-por-te, não sobrou muita coisa para odiar além da presença deles. De fato, sinto-me um imigrante lusitano nessa nova realidade, é irônico quando depois de tudo sou eu a ovelha negra da família. Desde a semana passada você tem tido um domínio sobre mim, é algo psíquico, eu não tenho como controlar. 

   Não adiantaria eu resmungar é por isso que prefiro enxugar as minhas lágrimas ao som de Donatella, enquanto as enxugo e ponho um sembalhante tão falso que até Deus perceberia. Confesso a ti, eu sinto uma imensa saudade de mim, nada me resta além do exílio. 

  Sempre repito três vezes tudo que já vivi, inconcientemente revivo todas as minhas angústias de outrora. Eu não sou um sádico, não gosto de sofrer, aqueles que dizem que somos totalmente convictos de nossas escolhas são um bando de ingnorantes que não sabem o que é amar de verdade. É evidente que passo grande parte do meu tempo remoendo tudo que acontece ao meu redor, sou um bicho transparente, certamente eu queria ser imune como os sábios. Eu costumo olhar longas horas meu reflexo no espelho antes de te escrever, quando o escrevo não são somentes acontecimentos, é também autobiógrafo. Acredito, acredito que você já se perguntou o motivo de sempre escrever sobre minhas angústias, quase sempre dou a entender que sou um moribundo. É complicado entender a minha dor, se eu escrevesse um livro, ele seria um drama juvenil. 

 Eu sinto sua falta, meu grande amigo. Acredito que há décadas que não nos vemos, não é mesmo? Você é algo inteiramente igual ao que eu fui um dia, naquele tempo eu era inteiro. Gostaria de te escrever mais vezes, mas ando tão ocupado com os meus problemas que até fico meio sem jeito.

Apareça quando puder, espírito meu. Você sempre será bem vindo. 

                                                                                Luciano Gomes
             

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Andrógino





Eu não mais o vejo verdadeiramente dentro de mim, e esses novos sentimentos difíceis de explicar. Eu, eu só preciso de mais um pouco de tempo. Ontem, você me ligou totalmente alterado e eu só queria mandar você ir se foder.  Uma parte de mim sempre se perguntou com eu poderia amar alguém que não sabe cuidar nem de si mesmo. Desculpa, mas eu te amei, eu te amei.

 As três horas da madrugada você me ligou dizendo que teria feito algo do qual se arrependeria para sempre, prometemos e fizemos juras. Será que eu poderia viver sem um motivo, sendo que toda noite você se deita do meu lado, beija o meu rosto e diz que me ama. Eu não posso fingir que isso basta por uma vida inteira.

     Naquela noite o homem que eu amei tornou-se um estranho, do jeito que o amor se decompõe tão lentamente nós seriamos apenas dois estranhos agonizando entre a multidão.
 Eu nasci na mesma noite que morri, e depois eu morreria novamente ao lembrar da merda que você fez. Eu poderia olhar nos teus olhos e agradecer.

     Eu não consigo viver assim, eu não consigo. Me perdoe mas eu não posso.

   Éramos algo além de nós mesmos, amávamos o que no fundo invejávamos? Eu só consigo enxergar aquela boca rosada abrir-se de encontro a minha, ouvindo o bater dos dentes, experimentando.

   Eu não chorarei novamente, pelo menos desta vez, porque toda vez que eu lembro da merda que você fez e das promessas que fizemos eu só penso em ligar pra você só para mandar você ir se foder.
  Não chorarei, pois desta vez partimos e aquele ser andrógino morreu. Eu já estou na segunda taça de vinho, desta vez não me peça para parar. Eu só preciso de um pouco de tempo.

Deveríamos nos esmagar toda vez que nos encontrássemos?  Deveríamos fazer amor com o nosso ego inflável? Nós estaríamos andando na corda bamba correndo risco de cair em cima de facas pontiagudas.
 Éramos tão antiquados, você preferia Roma a Berlim e eu odiava os calos em suas mãos. Nós poderíamos agir como idiotas adolescentes, pois meu coração já está completamente despedaçado, pois toda vez que nos encontramos naquela esquina eu moro um pouco.
   Eu adorava o jeito que você olhava o meu corpo depois que acabávamos de fazer amor, e a última coisa que consigo lembrar é dos seus olhos e aquele seu suspirar que me vazia tentar decifrar o que você queria dizer. Nós nos perdemos no meu do caminho, e talvez estejamos livres.
     Se tudo fosse um sonho ruim e você não tivesse feito aquela merda nós permaneceríamos cegos e fingiríamos que ainda nos amamos?

  Liberdade é algo tão difícil de se compreender. Liberdade é uma transa boa que me faz suspirar profundamente e por fim eu não sei se foi um simples orgasmo. Talvez, o meu melhor orgasmo.

Eu preciso de um pouco mais de tempo, eu já estou na quinta taça de vinho.

                                           Luciano Gomes